CRISE NO TRANSPORTE URBANO DE ARTUR NOGUEIRA

Bom Dia


Hoje trazemos reportagem do portal o NOGUEIRENSE falando da situação complicada do transporte urbano da cidade




Circulares de Artur Nogueira desagradam usuários e dão prejuízo para empresa









Com contrato vencido, tarifas congeladas há 10 anos e sem receber subsídio, empresa responsável afirma ter prejuízo de R$ 16 mil por mês com transporte municipal

Da redação
Luciomar ajeita os óculos e tira os papéis de dentro da pasta – três folhas com planilhas de cálculos simples e anotações rabiscadas a caneta. Elas estão debaixo de um ofício que, assinado pelo presidente da Câmara Municipal de Artur Nogueira, Ermes Dagrela (PR), e pelo vereador Miltinho Turmeiro (MDB), é o motivo de o funcionário da Mult Transportes estar ali, no Salão Nobre da Casa de Leis nogueirense, na tarde da última quarta-feira (13).
O ofício enviado à empresa no dia anterior solicita a normalização dos dois ônibus que realizam o transporte público municipal e o retorno dos horários praticados pela empresa até a última semana de maio, quando ocorreu a crise dos combustíveis na cidade em decorrência da greve dos caminhoneiros e a Mult alterou o funcionamento da linha. Segundo o documento, muitos munícipes disseram aos vereadores que estão “perdendo seus empregos, consultas pré-agendas e compromissos” por causa da mudança.
De fato, na última sessão da Câmara Municipal, na segunda-feira (11), alguns parlamentares discorreram sobre o assunto. Rodrigo de Faveri (PTB), por exemplo, disse ter recebidos diversas reclamações sobre o serviço prestado pela empresa e comentou que há moradores que, após a alteração dos horários, relataram ter esperado quase duas horas no ponto por um ônibus circular.
Miltinho (MDB) afirmou que o “o pessoal está bravo porque não tem ônibus” nos horários antigos. E Cristiano da Farmácia (PR) cobrou no plenário a empresa responsável, sugerindo a quebra do contrato caso a Mult não siga as exigências estabelecidas e não realize adaptações nos veículos para melhorar o transporte dos passageiros.
Os comentários dos parlamentares motivaram Ermes (PR) e Miltinho (MDB) a enviar o ofício especial à Mult. Apesar de o documento se dirigir a José Roberto Bonardo, foi Luciomar Junqueira, encarregado de transportes da empresa, quem compareceu à Câmara Municipal para prestar esclarecimentos aos legisladores e à imprensa. No Salão Nobre, na presença de Dagrela (PR), Miltinho (MDB) e Zé da Elétrica (PRP) – além de um repórter –, o funcionário abriu o jogo.
Luciomar ajeitou as folhas e disse que, apesar de seus cálculos serem grosseiros, eram bem próximos da realidade. “Não tenho aqui nada oficial para dizer: ‘vamos protocolar tudo’, mas tenho uma base para dizer o que aconteceu com os circulares”, começou, pontuando que o contrato da empresa com a Prefeitura de Artur Nogueira, assinado em 2012, já está vencido.
Ele explicou que, com a greve dos caminhoneiros, a empresa precisou economizar combustível para conseguir manter as linhas municipais em operação. A Mult, até então, utilizava dois ônibus para fazer os dois itinerários da cidade (Itamaraty e Sacilotto). Com a escassez dos combustíveis, a empresa passou a fazer os dois trajetos com apenas um veículo. “E foi aí que a gente viu o tanto de prejuízo que estamos tomando no circular”, contou o encarregado.
Ele disse que, tomando como base os números da última semana em que os itinerários foram realizados normalmente, o prejuízo mensal da empresa com o transporte público nogueirense é de R$ 16.208, somando-se os custos de diesel, salário de motoristas, pneus, mecânica, seguro e IPVA. “E isso é só bruto, não conta graxa, eletricista e borracheiro, por exemplo”, observou Junqueira.
Com a mudança ocasionada pela greve, que fez a empresa deixar apenas um veículo circulando nos dois itinerários, o prejuízo da Mult é menor, mas nem por isso pequeno, segundo o funcionário. “Como são os dois motoristas que vão dirigir [alternadamente] um carro só, aumenta o gasto por veículo. E apesar de ser um ônibus só, aumentamos quatro horários para compensar”, acrescentou o encarregado de transportes.
De acordo com os cálculos dele, feitos com base nos números da última semana de circulação do veículo, o prejuízo da empresa é de quase R$ 600 por dia. “O faturamento é de R$ 454,80 por dia no horário que está hoje. O custo diário é de R$ 1045,00. Subtraindo o faturamento, temos R$ 590 de prejuízo por dia, mas é um carro só”, detalhou.
Impressionados com a situação, os parlamentares presentes questionaram se a empresa não havia percebido antes que o serviço era tão oneroso para o caixa. Junqueira respondeu que já se comentava na empresa que os ônibus circulares davam prejuízo, mas que nunca havia sido feito um cálculo sério sobre isso. “A gente só viu [o tamanho do prejuízo] agora. Agora que caiu a ficha”, destacou, explicando que a transportadora trabalha com outros serviços e não depende só dos circulares para se manter.
Quando indagado se a Mult não havia notado que o negócio daria prejuízo financeiro na época que assinou o contrato, o funcionáio explicou que as coisas mudaram muito de lá para cá. Segundo ele, quando a empresa assumiu os circulares, o óleo diesel ainda custava R$ 1, e as rotas do ônibus não incluíam diversos bairros da cidade que surgiram nos últimos anos, como o residencial do Minha Casa Minha Vida (MCMV).
Ele também salientou que há 10 anos não é feito um reajuste na tarifa dos ônibus municipais, que possui valor de R$ 2. “E se a gente cogitar ter um aumento no preço da passagem, aí que a população vai ficar brava”, advertiu, acrescentando que quase metade dos passageiros transportados são idosos ou deficientes, ou seja, não-pagantes.
“E a população vai pagar por isso?”, inquiriu o presidente da Casa de Leis, Ermes Dagrela (PR). O encarregado esclareceu que é justamente por causa da população que os ônibus da empresa não pararam de circular, visto que o contrato está vencido e a Mult poderia parar de tomar prejuízo a hora que quisesse. “A gente ainda está correndo [com os veículos] porque não queremos deixar a população na mão”, salientou.
Junqueira alertou que, se a Mult largar, é possível que nenhuma outra empresa queira fazer o serviço. “A Campestre e a Bonavita já fizeram o serviço e largaram porque dá prejuízo. Se a gente parar, ninguém faz”, asseverou.
Os vereadores perguntaram o que pode, então, ser feito para remediar a situação. Luciomar respondeu prontamente que, a princípio, existem duas alternativas mais viáveis: a primeira é a Prefeitura pagar um subsídio de R$ 16 mil à empresa para compensar o prejuízo; a segunda é aumentar a passagem para R$ 3,40.
“Se a Prefeitura chegar para a gente amanhã e falar que apareceu uma empresa disposta a fazer o trabalho, a gente entrega na hora. Assim, paramos de perder dinheiro”, arrematou o encarregado.
Diante disso, os parlamentares solicitaram aJunqueira que elabore uma planilha completa das despesas da empresa com o transporte público municipal para, juntamente com eles, apresentar os cálculos ao Poder Executivo. O intuito é explicar a situação para a Prefeitura e negociar soluções para que os ônibus continuem circulando e que a empresa tenha condições de melhorar os serviços prestados para a população.
Até que uma decisão efetiva seja tomada, adianta Junqueira, as linhas municipais continuarão operando com apenas um ônibus e nos horários descritos abaixo:
  • 06:25 – Itamaraty
  • 07:15 – Saciloto
  • 08:05 – Itamaraty
  • 08:55 – Saciloto
  • 09:45 – Itamaraty
  • 10:35- Saciloto
  • 11:25 – Itamaraty
  • 12:15 – Saciloto
  • 14:45 – Saciloto
  • 15:35- Itamaraty
  • 16:25- Saciloto
  • 17:15 – Itamaraty
  • 18:05 – Saciloto
  • 18:55 – Itamaraty- Saciloto
Portal Nogueirense entrou em contato com a Prefeitura de Artur Nogueira, solicitando informações sobre o funcionamento das linhas e sobre o contrato com a Mult. Todavia, até o fechamento desta reportagem o Poder Executivo não se manifestou. Quando e se houver resposta, a população será atualizada.


COMENTÁRIO

Eu sou apaixonado pelos bastidores das empresas e dos sistemas de transportes, e esta reportagem foi um achado.
 Poder ter o conhecimento de um sistema de transportes em detalhes é algo dificil por isso parabenizo o site pela brilhante matéria
Bem no caso a grande surpresa é o fato que descobrimos uma empresa benemerente a MULT que tendo a oportunidade de abandonar a cidade não o faz por pensar nos passageiros
E na minha modesta opinião a Prefeitura terá que aumentar mesmo a passagem 
Mas eu creio que em cidades do porte de Artur Nogueira e com caracterísiticas especiais, como por exemplo, quando estive na cidade vi muita gente usando bicicleta; o transporte tem que ser encarado como algo social e não com objetivo de gerar lucro e por isso eu entendo que o serviço deveria ser prestado pela Prefeitura com onibus próprio, pois ai quem sabe poderia diminuir o prejuizo já que os custos seriam diluídos na conta de um todo da Prefeitura
Enfim, vamos aguardar os proximos capitulos desta historia



Comentários

  1. Excelente matéria Roger. Concordo plenamente quando diz que transporte é direito social e acho que em todo lugar, mesmo onde há lucratividade, deveria ser tratado assim. Infelizmente sabemos os problemas que administração pública do nosso país tem o que dificulta muito isso.

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